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Quinta, 23 Mai 2019 10:07

Pesquisa inédita mostra impacto ambiental negativo de ultraprocessados e carnes

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Por Guilherme Zocchio em 11 de abril de 2019

 

Doutorado da Faculdade de Saúde Pública da USP mostra que seguir recomendações do Guia Alimentar ajuda a natureza

“Prefira sempre os alimentos in natura ou minimamente processados e as preparações culinárias com predomínio de alimentos de origem vegetal, evitando os alimentos ultraprocessados.” O trecho é do Guia Alimentar para a População Brasileira, o documento do Ministério da Saúde que oferece orientações sobre comer de forma saudável.

Amplamente conhecido, ele toca também em um ponto ao qual se costuma dar menos atenção: o impacto ambiental das dietas. Esse aspecto, ligado às implicações sistêmicas da alimentação, motivou uma pesquisa inédita, relacionando o que se consome com as emissões de carbono e o uso das fontes de água.

O estudo “A alimentação e os impactos ambientais: abordagens dos guias alimentares nacionais e estudo da dieta dos brasileiros”, ao qual o Joio teve acesso em primeira mão, foi publicado em fevereiro deste ano e traz um novo olhar sobre o tema. Fruto do doutorado da cientista Josefa Maria Fellegger Garzillo, no Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP, a investigação chega a uma conclusão para lá de importante.

“As dietas monótonas, com elevado consumo de carnes e alimentos ultraprocessados, pioram o quadro de segurança alimentar (…) [e] degradam os ecossistemas”, afirmou a autora.

Garzillo defendeu uma tese de 450 páginas, dividida em três partes. Primeiramente, ela estudou os guias alimentares de diferentes países e encontrou em 26 deles prescrições de como a alimentação está relacionada ao meio ambiente.

Na sequência, ela fundamentou uma metodologia para medir o impacto ambiental da dieta da população brasileira. Para isso, ela comparou o consumo médio de alimentos, segundo a Pesquisa de Orçamento Familiares (POF), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com o que preconiza o Guia Alimentar para a População Brasileira.

Por fim, usou o método que construiu para medir qual a pegada de carbono e quão intenso é o uso da água. Entre as conclusões, o seguinte: seguir o que diz o Guia Alimentar para a População Brasileira é a fórmula do sucesso. Quanto menos carnes e ultraprocessados, melhor para o meio ambiente.

“O maior consumo de carnes apresentou as pegadas mais altas (6,4kgCO2eq e 6293 litros de água). O maior consumo de ultraprocessados (4,2kgCO2eq e 3789 litros de água) apresentou pegadas comparáveis ao consumo médio. Se 200 milhões de brasileiros adotassem a dieta saudável, eles reduziriam as emissões em 45 milhões de toneladas de carbono ao ano”, ela escreveu.

A quantia calculada seria equivalente a deixar de queimar o gás de seis botijões de cozinha por pessoa anualmente. Seis botijões é, de acordo com a cientista, a quantidade de consumo de gás anual em uma residência brasileira com família de três pessoas. Assim, a redução das emissões de carbono, com a adoção das dietas previstas no Guia Alimentar por toda a população, levaria a uma economia semelhante à quantidade de gás de cozinha consumido em um período de três anos. Não é pouco.

O doutorado da cientista inaugurou um caminho nas pesquisas sobre alimentação. Não só reforçou a noção de que há impactos ambientais sobre o que se consome, mas foi capaz de medir, quantificando, o tamanho destas consequências.

As aferições da pesquisa complementam as informações disponíveis no Guia Alimentar para a População Brasileira. O estudo amplia o número de evidências sobre o que significa comer de forma saudável, para si e para o planeta.

Nunca é demais lembrar: para se alimentar de forma saudável, é preciso que a produção ocorra de forma saudável, garantindo a preservação dos recursos naturais. “A sustentabilidade ambiental é condição sine qua non para a segurança alimentar no longo prazo e alguns impactos ambientais podem representar riscos de desabastecimento de água e alimentos ou torná-los impróprios para consumo”, observou a autora.

Com mais evidências sobre o que é saudável, é possível, segundo ela, nortear mudanças nos hábitos individuais e, também, nos sistemas alimentares, reorganizando, por exemplo, como se dá a oferta e a demanda de alimentos. “As pessoas precisam ser informadas de que as escolhas alimentares devem compatibilizar saúde e cuidado ambiental.”

O foco da pesquisadora nos guias alimentares não é à toa. Garzillo disse que eles são, no momento, a principal ferramenta para promover dietas mais saudáveis e sustentáveis. Nos documentos com abordagem ambiental, ela constatou que há preocupação em orientar a compra de mercadorias com etiquetas ambientais e oriundos de produção local, sazonal e ecológica.

Além disso, os 26 guias analisados recomendam: faça maior consumo de hortaliças e frutas frescas, moderando as carnes, e opte pelos alimentos tradicionais, evitando os produtos ultraprocessados, que vêm em embalagens e estimulam o consumo excessivo e o desperdício. Seguir tais orientações pode levar a melhores escolhas para o meio ambiente, minimizando as emissões de carbono e o uso excessivo de recursos hídricos.

“Talvez os guias alimentares integrados pudessem ser definidos como instrumentos que suportam as políticas públicas de transição para sistemas alimentares sustentáveis — ou para sociedades sustentáveis — e têm a saúde como critério, a saúde das famílias, dos agricultores, da flora, da fauna, do solo”, escreveu a cientista.

“É um material pedagógico para orientar as pessoas sobre as práticas alimentares que sejam saudáveis e prazerosas a elas próprias e para o planeta Terra, inserindo nas suas recomendações as ações de proteção ecológica em diferentes escalas: domiciliar, local, global e – por que não? – filosófica (ética e estética)”, complementou.

 

Para aceso ao conteúdo completo,acesse: https://outraspalavras.net/ojoioeotrigo/2019/04/pesquisa-inedita-mostra-impacto-ambiental-negativo-de-ultraprocessados-e-carnes/

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